Francisco Gonçalves Perez explica que, mesmo em um país com alto índice de desemprego, as empresas brasileiras enfrentam dificuldades crescentes para preencher vagas técnicas e estratégicas. Esse paradoxo expõe um problema estrutural: a escassez de mão de obra qualificada está se tornando um dos principais entraves à inovação. Sem profissionais preparados para lidar com novas tecnologias e metodologias, o potencial criativo das empresas é bloqueado, e a capacidade de competir globalmente fica comprometida.
A inovação depende do talento humano. Máquinas e softwares evoluem rapidamente, mas é preciso gente capaz de operá-los, interpretá-los e transformá-los em soluções reais. Quando falta essa ponte entre tecnologia e execução, as empresas deixam de implementar projetos, atrasam lançamentos e perdem produtividade. O resultado é um ciclo de estagnação em que o capital humano se torna o recurso mais escasso e, paradoxalmente, o menos acessível.
Quais setores são mais afetados pela falta de qualificação?
Os segmentos mais impactados são justamente os que mais demandam transformação digital, como tecnologia da informação, engenharia, saúde, logística e energia. Startups, indústrias e empresas de base tecnológica relatam dificuldades para contratar desenvolvedores, analistas de dados, especialistas em cibersegurança ou técnicos operacionais com conhecimento atualizado. Francisco Gonçalves Peres destaca que esse déficit atinge empresas de todos os portes, mas penaliza especialmente as que desejam escalar inovação.
Por que a formação profissional ainda não acompanha a demanda?
A origem do problema está na desconexão entre a formação educacional e as exigências do mercado. Muitos cursos técnicos e superiores ainda mantêm currículos desatualizados, baseados em metodologias teóricas e pouco alinhadas com os desafios reais das empresas. Francisco Gonçalves Perez ressalta que um sistema educacional mais dinâmico, flexível e voltado para competências práticas, como pensamento analítico, resolução de problemas complexos, programação e gestão de projetos é determinante para a qualificação profissional.

Sem contar as barreiras socioeconômicas que impedem o acesso à educação de qualidade. Grande parte da população não tem condições de se qualificar para profissões do futuro, mesmo com a expansão do ensino online. Falta apoio para cursos acessíveis, estágios remunerados e políticas públicas de incentivo à capacitação tecnológica. O resultado é um descompasso entre o potencial de inovação do país e a sua capacidade de executá-lo de forma efetiva.
O que as empresas podem fazer para enfrentar esse desafio?
Diante da escassez, muitas empresas têm investido em programas de formação interna e parcerias com instituições de ensino para moldar talentos desde a base. Iniciativas como bootcamps, escolas corporativas e hubs de inovação têm gerado bons resultados, mas ainda não são suficientes para suprir a demanda em larga escala. Para Francisco Gonçalves Perez, a cooperação entre setor privado, governo e academia é o único caminho sustentável para reverter esse cenário.
Em um ambiente de constante mudança, a adaptabilidade tornou-se uma competência central. Treinar colaboradores com foco em atualização constante pode ser mais eficiente do que buscar talentos prontos em um mercado já saturado. O desafio, no entanto, continua sendo o tempo e os recursos disponíveis para essas iniciativas.
Inovação sem gente preparada é uma ilusão
A ideia de que a inovação depende apenas de investimento tecnológico é cada vez mais ultrapassada. Francisco Gonçalves Peres reforça que o Brasil corre o risco de perder espaço competitivo se não investir seriamente na qualificação profissional. A inovação não se limita a centros de pesquisa: ela acontece no chão da fábrica, nas operações do dia a dia, no atendimento ao cliente. Superar esse gargalo exige ação coordenada, visão estratégica e, sobretudo, compromisso com a formação de pessoas.
Autor: Hahn Scherer